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5 séries da Netflix que dão uma aula de Storytelling

Séries nos prendem à tela para maratonas seguidas que rendem debates em grupos de Whats, Face e mesas de bar. Até quem não gosta de assistir, já deve ter ouvido falar das favoritas do momento!

Elas estão chegando cada vez mais rápido, de diversos canais e com boas histórias. Assim fica difícil escolher algumas para comentar. Mas conseguimos escolher 5 séries da Netflix que dão uma aula de Storytelling e seguem os princípios que uma boa narrativa deve ter.

“Sense8” e a Empatia

Sense8

Sense8 chegou quebrando diversas barreiras. Escrita e produzida pelos irmãos Lilly e Lana Wachowsk (criadores da saga Matrix) e por J. Michael Straczynski, a série mostra a vida interligada de 8 pessoas ao redor do mundo.

Os personagens compartilham emoções, pensamentos e experiências uns dos outros. Num primeiro momento, algumas pessoas podem estranhá-la. Mas é só começar a assistir para não parar mais. Uma riqueza de detalhes e intensidade pouco vista na TV. Só esses fatores já são dignos de uma aula de Storytelling. Os sentimentos e memórias compartilhadas nos levam para a viagem junto com os sensates.

Outro ponto forte de Sense8 é a maneira sutil com que aborda a diversidade. Uma hacker transexual lésbica, uma indiana que luta contra as tradições do casamento de seu país, um motorista de uma van na periferia da capital queniana, uma DJ que vive relacionamentos abusivos são só alguns exemplos.

Sense8 nos mostra um princípio fundamental para qualquer história: a empatia. Ou seja, ao ser apresentado a um protagonista empático – neste caso 8 personagens – o público começa a se conectar com a história e com valores e atitudes que identifica como sendo verdadeiros e compreensíveis do seu ponto de vista.

O público vê como possível estar no lugar desse protagonista, independentemente dos estereótipos e rótulos que possam surgir sobre eles em um primeiro momento.

“House of Cards” e o Conflito

House of Cards
Uma das séries queridinhas da Netflix, que desde o primeiro capítulo traz cenas marcantes. Quando vemos pela primeira vez Frank Underwood (Kevin Spacey) falando diretamente para a câmera, é como se ele nos levasse para dentro da série.

Frank é um personagem muito empático, independente de ter as características de um “vilão”. Ele é multidimensional, com suas diferentes intenções e seu lado negro, como todos nós.

A conversa com a audiência ajuda, nos provoca, nos faz compreender o universo dele e entender suas intenções, concordemos ou não com elas.

Em 2017, em meio aos acontecimentos políticos no Brasil, a série fez ainda mais sucesso. E ir além do que está nos capítulos das temporadas é algo que a Netflix no geral faz muito bem, mas os perfis relacionados à House Of Cards levam a internet à loucura e dão uma aula de Storytelling.

Foi o que aconteceu quando, prestes a lançarem a quinta temporada temporada no Twitter, eles publicaram “Tá difícil competir”. É a interação que vai além da tela. E continua contando a história junto com o espectador.

Os episódios apresentam os interesses existentes em todos os cantos, assim como na vida real. Por isso a veracidade é tão marcante e faz com que, do outro lado, repensamos pontos de vista, além de papéis da mídia e dos políticos.

Nesta série fica bem marcante outro princípio: o conflito. É o coração de uma narrativa.

É o que vai ajudar a reforçar a empatia, pois surge a partir de situações em que o protagonista se coloca e que vão revelar traços verdadeiros de sua personalidade, desejos que ele precisa para alcançá-los ou forças antagônicas que atuam para afastá-lo desses desejos.

“Breaking Bad” e as Viradas


Breaking Bad é uma série que muitos não se identificam de primeira. No entanto, após alguns capítulos, torna-se um vício. Essa série também é recheada de conflitos.

Já no início o personagem principal, Walter White (Bryan Cranston) é colocado num dilema moral. Ele precisa sustentar a família, ser pai, sobreviver. E aí precisa desafiar suas próprias crenças e incoerências como um trabalhador de classe média, a fim de partir para o submundo.

Por outro lado, ele desafia também esse rótulo do que é o submundo, que pode muitas vezes ser mais parecido com o nosso mundo do que imaginamos.

É possível também perceber a curva do personagem que, de um professor de química à traficante de peso, sempre se envolve em um fato novo que muda a trama o tempo todo.

Um destaque para a série é que mesmo em meio a tantas informações novas, ela não deixa de nos levar adiante. Sabe aquela sensação de assistir a uma série e de pensar que alguns capítulos foram escritos só para “encher linguiça”? Não é o que acontece em Breaking Bad. O formato é um vício.

Cada episódio começa com um teaser, que pode ser uma cena do passado, do presente ou do futuro. E a narrativa conecta-se a esse teaser de diversas formas. Ou seja, já no início vem uma pitada que desperta a curiosidade durante todo o capítulo.

Já ouviu aquela frase de que nos primeiros segundos de algum vídeo pensado para o Youtube temos que prender a atenção de quem está ali? É o aprendizado aqui.

As viradas são outro princípio importante, pois dão energia para uma boa narrativa, essencial para a história chegar ao clímax.

A partir de um conflito principal, outros vão se colocando no caminho do protagonista que, se por um lado toma uma atitude acreditando que vai levá-lo mais próximo de conseguir o que quer, por outro lado, essa mesma atitude pode afastá-lo daquilo que ele quer.

Boa parte da narrativa se move entre essas brechas, entre o que ele acredita que vai acontecer e o que acontece de fato.

Ao mesmo tempo em que ele fecha uma brecha, pode acabar abrindo outra. Quanto mais brechas se abrem e se fecham, mais a narrativa enriquece e faz o público se conectar ainda mais com a história.

“Black Mirror” e o Clímax

Black Mirror

O lançamento da terceira temporada foi o momento em que a série realmente estourou internacionalmente. Trazendo temas obscuros e irônicos da sociedade moderna, a série traz um formato diferente: cada capítulo conta uma história totalmente diferente, com novos protagonistas e tramas.

Para alguns, isso incomoda. Mas, para outros, é como se fosse um filme, só que mais curtinho, o que também prende a atenção do espectador para as outras narrativas.

Quem nunca começou a ver os episódios mais bombásticos da última temporada? Não é preciso esperar. As tramas de cada episódio são provocativas.

Diferentes roteiristas trazem à tona o futuro da tecnologia sob uma ótica do pior que essas tecnologias já revelam sobre o ser humano desde hoje.

Não é uma tarefa fácil. É o caso de “Nosedive”, que pode parecer futurista mas com uma mensagem super atual. Causa certo pânico porque é algo presente no nosso dia a dia e que faz com que nos reconheçamos em algumas ações.

É só pensar nas 5 estrelinhas de recomendações em serviços como Uber ou Trip Advisor. Ou nos corações e comentários sobre a vida que mostramos no Instagram.

É a narrativa pessoal correlacionada com a narrativa profissional. Vida e carreira atreladas pela história que contamos diariamente nas redes sociais. E que história é essa?

Black Mirror é uma aula de clímax. Sempre há algo inesperado, surpreendente, o melhor daquela narrativa guardado para o fim de cada episódio.

A recompensa para quem chegou até o fim. Uma narrativa fica mais verdadeira quanto maior é a transformação pela qual passou o protagonista.

Isso se dá, principalmente se, ao final, mais do que conseguir aquilo que ele conscientemente desejava, o protagonista chega a um patamar que no início nem ele nem o público imaginavam ser possível.

“Anne with an E” e a Mensagem Essencial

Anne with an E

Escrita e coproduzida por uma das roteiristas de Breaking Bad, Moira Walley-Beckett, a série lançada em 2017 já tem a segunda temporada confirmada. Ela chama a atenção pela história leve e ao mesmo tempo forte pelos assuntos que destrincha ao longo dos capítulos.

Anne é uma menina órfã que, depois de uma pequena confusão, foi levada por engano para a casa dos irmãos Matthew e Marilia Cuthbert, em Green Gables.

O que mais chama a atenção nesta série são as palavras estonteantes usadas por Anne, que vê beleza em tudo, e consegue sair do universo de muito sofrimento que viveu nos últimos anos para pensar criativamente sobre tudo.

Em cada conversa, por que não usar palavras consideradas difíceis mas que escondem em seus significados pequenas alegrias?

Anne nos ensina muito sobre acordar e enxergar a vida de uma nova maneira. A vida, assim como as histórias, é cheia de belezas e imperfeições.

Conseguir identificar um pouquinho de Storytelling em cada conversa ou nas pessoas que vemos na rua, é uma forma de praticar tal arte que deveria ser simples, mas que se tornou complexa por trás dos nossos medos.

E isso tem a ver com a mensagem essencial: a expressão máxima de uma narrativa. Ao final, é importante que o protagonista tenha revelado uma camada de sua personalidade que vá além dos estereótipos e expresse um sentido, um significado maior para sua existência.

Essa verdade pode ser comunicada por meio de uma mensagem essencial, que pode ser uma palavra, um termo, uma frase que diz sobre o que é a sua história: o tema.

Storytelling é sobre cada história que lemos, ouvimos ou vemos. Seja na ficção ou não. Se o público pudesse reter apenas uma mensagem sobre a sua história, qual seria? 

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