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Conteúdos que são narrativas no universo corporativo

Nos negócios, assim como no jornalismo e na publicidade, o storytelling está em evidência como uma estratégia de disseminação de conceitos e captura de interesse através da emoção. Finalizamos hoje, então, a nossa série de análises de conteúdo que são narrativas falando sobre a presença de conteúdos que são narrativas em ambiente empresarial.

Muitos executivos já utilizam os princípios de uma boa narrativa para se comunicar em reuniões, apresentações de lançamento de produtos ou pitchs em Demo Days. Seja o ouvinte um funcionário, cliente ou investidor, é sempre importante lembrar que a conexão com o discurso está diretamente relacionada à empatia que ele gera.

ANÁLISE DE HOJE: CONTEÚDOS DE NEGÓCIOS

Perceba como nos casos a seguir, os apresentadores conseguem cativar e aproximar o público com suas narrativas bem construídas e contadas.

Exemplo #1: Palestra de Elon Musk, CEO da Tesla, apresentando o novo produto PowerWall

Apesar de saber que o produto sobre o qual iria falar era uma excelente solução sustentável, Elon Musk demonstra saber também que boa parte do sucesso do lançamento da bateria PowerWall estava depositado no impacto que sua apresentação teria no mercado.

Percebemos isso já no início de sua palestra, que faz um alerta para o crescimento de concentração de CO2 na atmosfera. Triste verdade sobre um problema sócio ambiental mundial que Musk salienta existir por conta da produção predominante de energia através de combustíveis fósseis. Um grande conflito que pode tornar a vida no planeta inviável.

Uma declaração desse nível é capaz de chocar os ouvintes, e conectar a humanidade ao valor do seu produto para a preservação do meio ambiente e da nossa existência. Já que o mesmo, juntamente com o Sol, grande emissor de energia natural, são citados como sendo os responsáveis para que haja uma transição para um mundo de energia sustentável.

Ao longo dos 18 minutos, acontecem 15 viradas. Vejamos algumas:

  • Conflito: energia gerada por combustíveis fósseis;
  • Solução: energia solar;
  • Conflito: sol não aparece à noite;
  • Solução: armazenar a energia gerada durante o dia, combinando painéis solares com baterias;
  • Conflito: baterias existentes no mercado são caras, grandes e não confiáveis;
  • Solução: PowerWall é uma bateria pequena, de design clean e fácil instalação, com um custo super acessível;
  • Conflito: precisar de uma carga grande de eletrecidade;
  • Solução: 9 baterias PowerWall podem ser interligadas, o que significa até 90kwh;
  • Conflito: precisar de uma escala ainda maior de energia;
  • Solução: PowerPack, ordem de gigawatts-hora agrupados infinitamente.

São as viradas que enriquecem a fala de Musk e, claro, os atributos da bateria, pois toda vez que o discurso apresenta um novo conflito, a Tesla traz a solução imediata. Ou para um futuro próximo, se houver a colaboração de muitos.

E é essa a transformação fundamental para o mundo que a comunicação da empresa propõe: “precisamos fazer algo coletivamente. Temos em mãos a possibilidade de reescrever o futuro, algo que devemos fazer, que nós podemos fazer e que nós vamos fazer”. Essa frase final de Musk resume a mensagem essencial da palestra e a grande verdade sobre o qual ela gire em torno.

Assista a palestra na íntegra e confira como as pessoas foram conectadas a essa história do início ao fim.

Para uma análise mais detalhada sobre essa mesma apresentação, leia o post do blog da SOAP, “Como é gerada a narrativa de uma história.”

Exemplo #2: Pitch da Startup Letras de Médico no evento Empreendedorismo de Impacto 2015

Não precisamos ir muito longe para encontrar um bom pitch que quebre as regras dos modelos prontos para obter sucesso de verdade. No ano passado, em Florianópolis, a startup Letras de Médico ficou em segundo lugar na votação popular do SGB Lab, um laboratório que ajuda a viabilizar projetos que usam as tecnologias e novas mídias para melhorar o mundo.

Vamos entender agora, o provável motivo por tantas pessoas terem se conectado com a apresentação do Rogério, médico recém formado pela Universidade Federal do Ceará, e que demonstra acreditaar verdadeiramente no propósito do seu negócio.

Quem nunca tentou decifrar a letra do seu médico ou teve que ajudar algum parente a controlar uma pilha de medicamentos? Rogério teve a sensibilidade de perceber que precisava mais do que dados para envolver as pessoas. Era preciso gerar empatia com histórias reais, com as quais as pessoas se identificam.

Antes mesmo de se apresentar, exibiu o depoimento de uma senhora que, ao invés de tomar os remédios de 8 em 8 horas como prescrevia a receita, tomava as 8h da manhã e depois as 20h. Gancho perfeito pra sua fala inicial que já trouxe à tona o conflito: “No Brasil, há 28 milhões de analfabetos funcionais”.

Na sequência, fica clara a motivação do seu projeto. Durante os 6 anos de faculdade, constatou que só 10% da população entende de saúde. E os outros 90%?

São como a Dona Maria, caso principal do seu discurso que prova a gravidade da falha de comunicação entre médico e paciente. Um exemplo real do conflito que traz verdade pra apresentação.

O outro lado da moeda também é mostrado. Os médicos se frustram quando os pacientes não seguem ou não entendem suas orientações, o que deixa a consulta improdutiva e impacta o nosso sistema de saúde.

Como solucionar esse conflito? Através da plataforma Letras de Médico. Rogério apresenta um modelo de prescrição médica adaptada à realidade de muitos brasileiros como a Dona Maria. Uma receita organizada em horários e pictogramas com uma linguagem totalmente compreensível. Eis a grande virada da narrativa.

Só então o pitch traz o modelo de negócios e o plano de crescimento que ganham força e atratividade a partir da  conexão gerada antes, por meio dos princípios da narrativa presentes em seu discurso.

A transformação é representada por um diálogo em vídeo exibido ao final: “- E se o médico apresentasse uma receita como essa aqui pro senhor, o que tu ia achar desse médico? – Médico legal, né?” Fica evidente a importância do seu negócio, que visa revolucionar a forma como a saúde é comunicada.

Ao assistir o pitch abaixo, repare que, além dos pontos já destacados aqui, Rogério também se sai muito bem ao enfrentar problemas com a visibilidade de slides importantes. Ao invés de ficar se desculpando, arrumou uma forma de amenizar o ruído na comunicação: “Um software inovador que vocês não vão conseguir ver”, descontrai, fazendo a plateia rir.

Mesmo havendo diferença na duração e densidade das informações, ambos exemplos demonstraram que uma boa expressividade verbal e corporal é uma excelente ferramenta para se conectar com as pessoas.

Mas subir no palco exige uma boa narrativa. Solicite o apoio de um mentor de narrativas para te ajuda a contar bem uma história dentro de sua empresa.

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