Compartilhe

O que aprendemos ao olhar para o 8 de Março além das narrativas comerciais

Dia Internacional da Mulher. E de receber cartões com um buquê de flores, promoção em salões de beleza, desconto na academia, no restaurante… certo?

Do ponto de vista econômico pode até ser. Mas se pensarmos numa perspectiva histórica, veremos que esses gestos estão bem longe do significado original.

Como um time que gosta de perguntar muitos porquês e ir a fundo na descoberta – a essência do Mapa da Narrativa – nos propomos a investigar o que realmente está por trás do famoso “dia da mulher” e buscar o verdadeiro significado da data.

Nossa investigação foi por um momento brutalmente interrompida mas seguimos adiante na direção contrária às histórias cor-de-rosa criadas para “afofar” o dia 8 de março e encontramos um importante significado para a data que queremos compartilhar: o inconformismo.

Fevereiro de 1909, Nova York. Cerca de 15 mil mulheres protestando nas ruas da cidade que nunca dorme, reivindicando direitos e melhores condições de trabalho.

Isso é um fato. Não é um “dizem que…”, não é lenda urbana. Está comprovado. Há fotos, documentos, cobertura de imprensa, repercussão. O protesto feminino americano foi um marco na história e ganhou espaço nos livros escolares e teóricos. Está lá, registrado.

Há estudos e uma extensa revisão da literatura sobre as condições insalubres nas quais as mulheres trabalhavam, aliadas a uma jornada exaustiva que incluía fins de semana e que ainda hoje é discutida, principalmente quando se fala em duelos polêmicos, como maternidade versus trabalho.

Em 1917, novo protesto: operárias saem às ruas, na Rússia, num claro manifesto contra a fome e a Primeira Guerra Mundial. Era 23 de fevereiro pelo antigo calendário russo, o que causava uma defasagem de 13 dias entre as datas da Rússia e do Ocidente.

Ou seja, de acordo com o calendário ocidental, o protesto se deu no dia 8 de março. Diante da comoção gerada, foi dada a largada para a Revolução Russa, e a data ficou marcada como o dia das “mulheres heroicas e trabalhadoras”, sendo oficializada pela ONU como Dia Internacional da Mulher em 1975, exatos 58 anos depois.

Aqui vemos dois acontecimentos decorrentes do inconformismo das mulheres com a sua situação. Essa é a essência do que o 8 de Março simboliza e que vai muito além de uma data para “parabéns” e “felicidades”. É para nos lembrar de um tempo que nem homens nem mulheres querem de volta.

Ao olharmos para a essência de uma data como essa o que aprendemos sobre narrativas?

Fazer esse resgate é se importar de verdade com uma história e com a sua própria reputação, pois quando você repassa algo que não verificou, quando apenas repete aquilo que ouve e vê, pode acabar menosprezando o poder de uma narrativa. Compartilhar e divulgar algo verídico e embasado, calculando o impacto que tal escolha terá sob as pessoas, é um diferencial na era da internet e das “fake news”.

Outro ponto fundamental que aprendemos é sobre o valor da história que você está passando adiante. Vale a pena relembrar as peneiras de Platão e se perguntar: essa história ajudará alguém a abrir a cabeça? Derrubará mitos? Fará com que pensem diferente? Talvez. O que interessa é que desperte algo. Um ponto de interrogação, que seja. Afinal, desconstrução é isso. É (re)mexer. Modificar. Botar pra quebrar. E começar novamente, juntando os “cacos”.

E quando o terreno é bruto e espinhoso, como o da história das mulheres, se faz ainda mais necessária essa busca pela verdade e pela autenticidade.

Por fim, o que essa história nos ensina é que não podemos nos guiar por uma única voz, por um único lado. “A verdade é um diamante de muitos lados, mas é inteira e poderosa”, disse Kaká Werá.

Tratar o Dia Internacional da Mulher como isca para o consumismo e reforço de um padrão de beleza a ser seguido é mascarar a difícil realidade que as mulheres ainda enfrentam só por serem mulheres.

Portanto, no próximo Dia Internacional da Mulher, que tal pensar duas vezes antes de enviar imagens fofas com GIFs animados e purpurina? Afinal, se tudo fosse flores e sorrisos derretidos com direito a muito chocolate, as ruas de todo o Brasil e do mundo não seriam tomadas por milhares de mulheres nessa data tão simbólica, como no dia que originou toda essa história.

Para saber mais sobre como investigar, explorar e trazer todos os lados da história para a sua narrativa e deixá-la mais verdadeira, assista esse vídeo:

DEIXE O SEU COMENTÁRIO

Menu